MULHERES NA HISTÓRIA DAS ARTES MARCIAIS


Artigo super especial em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

Força, determinação e vontade são marcas características das mulheres. E isso não é diferente dentro dos esportes e das artes marciais, especialmente no mundo do Karate-Dō. A história das mulheres nessas práticas é mais extensa do que podemos imaginar e, hoje, vamos tentar trazer algumas dessas histórias aqui, apesar de muitas terem se perdido no tempo.

Tsuru Matsumura
A mulher mais forte do Tode


Uma das histórias mais conhecidas é a de Tsuru, esposa de Sokon Matsumura (1809-1901). Tsuru, filha do prefeito da vila de Yonabaru, era uma jovem talentosa e forte que, aos 15 anos, já havia derrotado muitos adversários. O começo do relacionamento dela com seu futuro companheiro foi, no mínimo, peculiar, com uma história digna de nota. 

Conta-se que, para casar-se com alguém, Tsuru deveria ser derrotada em combate pelo pretendente. Essa tarefa não era muito fácil, no entanto: ela derrotava qualquer homem que a enfrentasse no Karate-Dō (ainda chamado de Tōde), no braço-de-ferro e no levantamento de peso.

Na primeira vez, Sokon a enfrentou e foi derrotado por um golpe que não conseguiu defender, mas a luta havia sido boa o suficiente para despertar o interesse de Tsuru. Em uma nova chance, ambos acertaram-se ao mesmo tempo e ela considerou o empate suficiente, aceitando a proposta de casamento, por fim.

Rui Sasaki
A espadachim de Edo

Rui Sasaki, mestra de Kenjutsu e Jūjutsu (japonês) na cidade de Edo, possui uma história similar. Quando seu pai morreu prematuramente, Rui teve de assumir, ainda jovem, seu lugar no Dōjō, continuando a linhagem tradicional da família. Derrotando todos os que apareciam, ela finalmente teria encontrado alguém a sua altura, com o qual casou-se. Seu companheiro, inclusive, teria assumido o nome de sua família oficialmente.

Keiko Fukuda
Um legado para as artes marciais

No Jūdō, temos a história de Keiko Fukuda, uma das mais bem documentadas por fazer parte da história recente. Keiko era neta de um dos mestres de Jigorō Kanō (fundador do Jūdō) e foi, posteriormente, sua aluna e única mulher do mundo a receber o 10° Dan na arte marcial. Durante anos Kano não ensinou seu Jūdō para mulheres, mas quando a Kodokan (sua escola) completou 50 anos, isso mudou. No entanto, o ensino só era voltado às mulheres de sua família, o que não se sustentou por muito tempo, fato que o fez convidar Keiko para treinar com ele.

Keiko estava até prometida em casamento, mas largou tudo para ir estudar Jūdō na Kodokan, sendo aluna de Kano por 4 anos, tornando-se oficialmente professora da instituição. Antes de sua morte, Kano pediu a Keiko que viajasse o mundo para expandir a arte, o que fez com que ela passasse por diversos países, como Austrália, França, Noruega, México, e se instalasse, por fim, na Califórnia ( EUA). Pouco antes de seu falecimento, Keiko Fukuda recebeu o 10° Dan, deixando um legado a todos os praticantes de artes marciais. Seu lema era: "seja forte, seja gentil, seja bonito".

Falecida aos 99 anos de vida, ela praticou e ensinou Jūdō por mais de 70 desses anos. Assista abaixo um pequeno vídeo sobre a mestra.


A Esposa de Funakoshi

Uma história pouco reconhecida

Mas nem todas tiveram o reconhecimento merecido. O mundo fala muito sobre Gichin Funakoshi, considerado o Pai do Karate-Dō Moderno, mas ignora em muitos momentos a história de sua esposa, cujo nome não conseguimos encontrar em nenhuma fonte consultada. Aliás, sua própria história de vida é resumida dentro da biografia de seu companheiro, infelizmente. No entanto, sabe-se que ela era karateka também; há quem diga, inclusive, que era ainda melhor na arte que o próprio Funakoshi.

No Dōjō e no Esporte
A história sendo escrita hoje

As mulheres continuam a traçar sua história marcante dentro das artes marciais. No Karate-Dō, a cada dia, elas se destacam, não apenas na prática cotidiana, mas no próprio contexto esportivo. As medalhas femininas obtidas por brasileiras em competições se igualam e, muitas vezes, ultrapassam o número das masculinas. Isso apenas reforça algo que todo o instrutor de Karate-Dō nota com a prática e a experiência: a qualidade técnica delas e sua dedicação são grandes diferenciais.

Ao contrário dos homens, que exageram na força bruta ao aprender os movimentos básicos, as mulheres se dedicam às nuances das técnicas. Com um olhar atento, percebem como extrair o máximo de eficiência de seu corpo e incorporar isso a cada um de seus gestos. A velocidade de seu aprendizado é assombrosa, não sendo coincidência seu rendimento enquanto artistas marciais ou esportistas.

O Karate-Dō, enquanto prática corporal e cultural, só tem a ganhar cada vez que uma mulher o escolhe como prática regular. Que possamos nos espelhar cada vez mais no exemplo delas.
___________________________________________________________________________

Professor de Karate-Do pela Wado-ryu Renmei do Brasil
Mestrando em Gerontologia Biomédica - PUCRS
Bacharel em Educação Física - UFRGS
___________________________________________________________________________
Referências
http://www.okinawabbtv.com/culture/karate/okinawakarate_e/episode/e_episode003.html
http://www.karate-do.com.br/ead/index.php?option=com_content&task=view&id=44&Itemid=2&limit=1&limitstart=5
http://globotv.globo.com/sportv/sensei-sportv/v/conheca-a-historia-de-keiko-fukuda-a-mulher-que-ajudou-o-judo-a-se-espalhar-pelo-mundo/3005400/
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI256728-15228,00.html

5 comentários:

  1. Difícil ver algum site falando sobre isso.
    As mulheres também são importantes nas artes marciais e as vezes não dão importancia para isso.
    Muito bom o post. Abraço da equipe Sou de Luta

    ResponderExcluir
  2. Show de bola! Ótimo blog e ótimo artigo. Sou super fã das artes marciais e falo sobre isto em meu blog também. Abraço. Já estou acompanhando seu blog!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela força, Leonardo. Sucesso em seu blog! Estaremos acompanhando. Osu!!

      Excluir
  3. Meu blog ainda é novo, mas logo terá um bom conteúdo. Adicione aí: http://trintanerd.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir