A ÁGUA QUE BEBEMOS NO KARATE
O cuidado com a água é extremamente importante e não deve ser negligenciado.
Desde pequenos ouvimos que é essencial beber dois litros de água por dia. Mas, será que apenas beber, em questão de quantidade, é a solução? E quanto às propriedades físico-químicas da água? E sua origem? Seu pH? O sódio? Mas não é só água?!
Muitas perguntas? Pois é, mas todas são importantes. Por isso, trazemos hoje um artigo de utilidade pública, voltado à saúde da comunidade karateka e geral. Ficou extenso, mas vale a pena.
AULA BÁSICA SOBRE ÁGUA
A água é uma substância química composta de hidrogênio e oxigênio, essencial para todas as formas conhecidas de vida na Terra, e cobre 71% da superfície do planeta, sendo encontrada principalmente em oceanos. Infelizmente, a água salgada dos oceanos não é própria para o consumo direto, sendo necessário a ingestão de água doce, da qual cerca de 70% é consumida pela agricultura.
No corpo humano, a água equivale de 70 a 75% de sua composição. Esse número varia de acordo com a a idade, o sexo, a massa muscular, o aumento ou perda de peso, o tecido adiposo (gorduras) e gravidez ou lactação. Trata-se de um produto natural e indispensável para os humanos, que não sobrevivem mais que um punhado de dias sem ela. A água age, em nossos corpos, como reguladora de temperatura, diluidora de sólidos e transportadora de nutrientes e resíduos entre os diversos órgãos, além de regular o funcionamento normal desses órgãos.
Além de sua importância biológica, podemos lembrar que a água é reconhecida como uma substância purificadora em diversas culturas do mundo. É utilizada para representar diversos conceitos filosóficos e abstratos, como ocorre em diversas religiões. Nada mais natural, pois é a substância fundamental da vida.
O que bebemos é denominado como água potável, ou seja, aquela que pode ser consumida por pessoas e animais, não contendo presença de substancias tóxicas ou de doenças por contaminação. A palavra potável vem do latim potare, que significa beber, ingerir.
Nem toda a água disponibilizada nas cidades brasileiras pelos sistemas de distribuição locais é considerada própria para o consumo (existem leis que regulam esses aspectos). Isso depende da origem do líquido e do tratamento prévio, que visa reduzir a concentração de poluentes até que não apresentem riscos à saúde pública. No Brasil, mais de 20 mil pessoas morrem por ano de doenças causadas pela ingestão de água contaminada (dados da Organização Mundial de Saúde - OMS), problema agravado durante o verão (mais sede, mais água). Assim, é muito importante estar atento à qualidade da água.
Em sua maioria, as doenças relacionadas à água são causadas por vermes e parasitas que se instalam em águas impuras e impróprias para o consumo. Dentre elas, podemos destacar: esquistossomose, hepatite;
amebíase, malária, febre amarela, dengue, entre outras. Já existem diversas formas domésticas de purificação da água. As mais notórias são: (1) uso de filtros, (2) uso de galões e (3) uso de purificadores. Vamos passar rapidamente por cada uma e entender seu funcionamento.
Filtros: podem ser encontrados em duas versões, barro ou de plástico/inox. Os de plástico/inox possuem um vela que filtra a água e impede a passagem de impurezas. No entanto, não reduzem o índice de cloro nem de bactérias presentes no líquido. Já o de barro faz uma espécie de filtragem, através de uma peneira de quartzo ou dolomita, que retira as impurezas.
Galão: uma das preferências atuais para o consumo. Apesar da praticidade e do maior controle de qualidade, podem ocorrer contaminações por bactérias, devido ao método de envasamento, transporte e instalação no bebedouro. No entanto, o galão só pode ser utilizado por três anos, devendo ser encaminhado, então, à reciclagem. Caso não seja reciclado corretamente, pode gerar prejuízos ao meio ambiente, pois a decomposição é muito demorada (no mínimo 100 anos).
Purificadores: são aparelhos que conseguem matar bactérias, independentemente do sistema. A água purificada pode eliminar bactérias em nosso organismo e auxiliar no controle da hipertensão, já que o processo elimina os sais e cloretos presentes na água. Há modelos que fazem uso de eletricidade e outros que não necessitam.
SÓDIO, pH E OUTRAS COISAS
No geral, as pessoas costumam achar que água é sempre igual. Mas isso não é verdade. Tem água com mais sódio e outras substâncias prejudiciais do que refrigerantes. Nos rótulos das águas engarrafadas (que ainda é um dos meios mais utilizados no Brasil para consumo) há sempre uma tabela pequena, com letras ainda menores, à qual poucas pessoas dão atenção. Pois então... é ali que você deve ler primeiro.
Nessa tabela estão presentes todas as informações importantes que devemos atentar: níveis de sódio (sal) e acidez, nitrato (resíduos), magnésio, cloretos, sulfatos, brometos, etc. Como não temos nenhum químico de plantão no site, vamos comentar apenas sobre os três principais: pH (nível de acidez), sódio (sal) e nitrato (resíduos).
SÓDIO
O sódio é, talvez, o mais importante de todos os componentes a se observar. Quanto mais sódio há no líquido, maiores as chances de você desenvolver doenças relacionadas a ele, como a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), mais conhecida como pressão alta. E, depois que se desenvolve isso, caso não seja controlado, aumenta-se a chance de ocorrerem infartos do miocárdio (ataque cardíaco) e acidentes vasculares cerebrais (AVC - derrames). Muita atenção, pois há marcas com esses níveis bem alterados em sua composição.A água da marca Crystal, da empresa Coca-Cola, por exemplo, no Rio Grande do Sul apresenta em seu rótulo um nível de sódio de 103,6 mg/L, o mais alto da categoria (varia de acordo com a região, pois depende da fonte natural).
Ah, mas isso, em um litro, só representa cerca de 4% do consumo de sódio diário recomendado. Sim. Mas o correto é beber pelo menos 2 litros por dia (já sobe para 8%). No verão, consumimos mais água, digamos, 3 litros por dia (12%). Agora associe isso aos alimentos diversos pré-prontos que você consome, que contêm muito mais sódio. Isso pode desencadear diversas complicações à saúde. E, caso a pessoa já seja hipertensa, ingerir água dessa qualidade é ainda pior.
NITRATO
O nitrato trata de substâncias que constituem um grupo de fármacos vasodilatadores, usadas no tratamento da angina de peito (dor) e da disfunção erétil masculina (impotência). Sim, você leu certo. Mas não ache que beber água com nitrato vai lhe deixar mais viril. Pelo contrário: essa substância, quando encontrada em águas minerais, é associada ao risco de doenças graves, como a metamoglobinemia (síndrome do bebê azul), o câncer gástrico e o câncer de estômago. Detalhe: não há níveis indicados para consumo, portanto, evite beber água com esse componente em sua tabela.
pH
O pH (potencial hidrogeniônico) é outro ponto a ser discutido. Trata-se de uma escala que mede o nível de acidez da água. A recomendação da American Public Health Association (APHA) é que o pH varie de 7 a 10, o que caracteriza uma água neutra ou alcalina. Líquidos com pH abaixo de 7 são considerados ácidos.
Um pouco de química: O corpo humano precisa produzir energia (consumir elétrons) para funcionar. Quando consumimos elétrons sobram os prótons, cujos mais simples são os H+. No pH se mede a quantidade de prótons (íons H+), de forma que, quanto mais prótons temos, menor é o pH e mais ácido é o meio. Ou seja, quando consumimos energia, nosso corpo se acidifica. Para restabelecer o equilíbrio, temos de eliminar esse ácido: (1) através da urina; (2) através da respiração; (3) através do estômago; e (4) através da transpiração.
É essencial para o nosso corpo manter um pH no sangue entre 7,35 e 7,45 para estarmos saudáveis. Por isso, há quem aponte a necessidade de ingerir águas alcalinas, com pH igual ou superior ao de nosso sangue (7,35 ou mais), de forma a auxiliar os processos metabólicos. Não encontramos nenhum artigo que indicasse a necessidade real disso, mas a recomendação da APHA, supracitada, é clara.
No Brasil ainda é difícil encontrar água alcalina à venda, pronta para o consumo. Felizmente, essa água pode ser feita em casa com o uso de um ingrediente básico: limão. Sim, essa fruta de gosto ácido possui propriedades alcalinizantes. Nela encontramos o poderoso ácido cítrico que, ao entrar em contato com o meio celular de nosso organismo, é transformado durante a digestão e comporta-se como um alcalinizante, ou seja, um neutralizante da acidez interna. Seus diversos sais convertem-se em carbonatos e bicarbonatos de cálcio, potássio, etc., que acentuam a alcalinidade do sangue.
Basta acrescentar algumas rodelas na jarra um pouco antes de ingerir a água. Só não vale colocar açúcar ou adoçante, ok!?
COMO LER O RÓTULO DA ÁGUA?
Quanto menos melhor: sódio, cloreto, vanádio, sulfato, bário, nitrato, zinco e lítio. Sobre o pH, sempre dar preferência para águas com índices entre 7 e 10.
MAS E A ÁGUA DA TORNEIRA?
A procedência da água da torneira muda de acordo com sua região e cidade. Para saber a composição química dessa água, você deve solicitar a informação à companhia de saneamento de sua cidade. Detalhe: é obrigação dela informar.
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Professor de Karate-Do pela Wado-ryu Renmei do Brasil
Mestrando em Gerontologia Biomédica - PUCRS
Bacharel em Educação Física - UFRGS
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Referências
Mestrando em Gerontologia Biomédica - PUCRS
Bacharel em Educação Física - UFRGS
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Referências
1) ALFLEN, D.; REIS, J.; MOREIRA, V; LIMA, L. D. C.; OLIVEIRA, J. Caracterização Das Práticas De Hidratação Em Atletas De Karatê Do Estado De Rondônia. Coleção Pesquisa em Educação Física. 2009 - Vol.8, nº 4.
2) APHA, American Public Health Association. Standard methods for the examination of water and wastewater, 17th ed. Washington, DC, 1989.
3) BERNARDO, L.; BERNARDO, A.; CENTURIONE FILHO, P. L. Ensaios de tratabilidade de água e dos resíduos gerados em estacoes de tratamento de água. São Carlos: RiMa, 2002.
4) MANASSARAMEU. D. M.; BACKER, L. C.; MOLL, D. M. Uma revisão de nitratos na água potável: exposição materna e resultados adversos de reprodução e desenvolvimento. Ciênc. saúde coletiva Vol. 12 n. 1 Rio de Janeiro Janeiro/Março de 2007
5) MORTIMER, E. F. H2O - água: o significado das fórmulas químicas. Química Nova na Escola, n.3. 1996.
6) RICHTER, C. A; AZEVEDO NETTO, J. M. Tratamento de água: tecnologia atualizada. Sao Paulo: Edgard Blucher, 2003.
7) ROCHA, M. Água alcalina pode prevenir doenças como obesidade. Disponível em: http://www.ofluminense.com.br/editorias/revista/liquido-do-bem.
8) pH in Drinking-water. In: Guidelines for drinking-water quality, 2nd ed. Vol. 2. Health criteria and other supporting information. World Health Organization, Geneva, 1996.
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