ENTREVISTA EXCLUSIVA COM NATÁLIA BROZULATTO
Medalha de bronze no Karate1 Premier League 2014. Ouro e bronze nos XXVII Jogos Pan-Americanos. Campeã do US Open de 2012. Campeã individual e por equipes do Campeonato Brasileiro Universitário. Some a isso diversos outros títulos e muitas participações em competições de nível internacional. O currículo dela já a representa muito bem.
Natália Brozulatto é um dos grandes nomes do esporte brasileiro.
Em setembro de 2013, Natália conquistou a medalha de bronze na categoria kumite feminino (-68 Kg), da etapa de Hanau/Frankfurt, do Karate1 Premier League. A competição reuniu 612 competidores de 46 países. Com lutas muito disputadas, a karateka brasileira subiu ao pódio após enfrentar a russa Inghá Sherozyia, atual primeira colocada no ranking mundial da WKF (World Karate Federation).
Natural de Marília (SP), a atleta reside em Piracicaba, onde se formou em Educação Física pela Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). No entanto, ela não fica parada no mesmo lugar por muito tempo. Neste exato momento, a karateka está em Paris, após ter participado da primeira etapa da Premier League da WKF de 2014, junto da seleção brasileira da CBK (Confederação Brasileira de Karate), conforme você já viu aqui. Lá, ela conquistou a medalha de bronze no kumite feminino.
E foi de lá que Natália respondeu à nossa entrevista.
Uma pessoa solícita, muito simpática e humilde, como uma verdadeira campeã, ela nos contou um pouco de sua trajetória e objetivos para 2014. Confira abaixo.
Uma pessoa solícita, muito simpática e humilde, como uma verdadeira campeã, ela nos contou um pouco de sua trajetória e objetivos para 2014. Confira abaixo.
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Karate Nerd: Primeiro de tudo: quando, onde e porque você começou a treinar Karate?
Natália Brozulatto: Comecei a treinar em 2000, com 9 anos, no Clube Gran São João, em Limeira, interior de São Paulo. O clube oferecia a modalidade e, por sempre gostar de filmes de luta, comecei a treinar para aprender a lutar.
KN: Quando começou a treinar, seu objetivo já era ser uma campeã esportiva ou isso só veio depois?
NB: Quando comecei a treinar era muito nova, não tinha essa consciência. Porém, as oportunidades foram aparecendo e o caminho foi sendo traçado e definindo o que realmente sou hoje.
NB: Comecei a competir com 11 anos.
KN: E o que fez você optar pelas competições de kumite? Talento natural, gosto pessoal, exigências do sensei...?
NB: Sempre gostei de lutar. Até meus 19 anos disputei a categoria kata, mas não treinava muito para isso. Já no Kumite eu me saía melhor; Sempre obtive resultados e acho que foi isso que me motivou a optar por competir em shiai kumite.
KN: Quando você começou a imaginar que poderia competir a nível internacional?
NB: Comecei a imaginar isso quando meu primeiro sensei comentou sobre a possibilidade de disputar o mundial da WTKA no ano de 2006. No mesmo ano, fui campeã Brasileira pela CBK e o título convocava o atleta para disputar o Campeonato Pan-americano. A partir dai comecei a sonhar grande.
KN: Em sua opinião, quais os três pontos mais importantes para que alguém possa se desenvolver e se tornar bom em kumite?
NB: 1) Persistência; 2) disciplina; e 3) coragem.
KN: Como você sabe, muitas pessoas têm medo de competir em kumite. A luta é muito emocional e mexe com as pessoas de diferentes maneiras. Qual seu conselho para elas?
NB: Meu conselho é que as pessoas persistam, pois não podemos desistir com qualquer obstáculo. O caminho será árduo, porém não tem nada que pague a satisfação do dever comprido e da realização pessoal.
KN: Uma pergunta um pouco mais complicada e polêmica. No Brasil (e no mundo), a população de karateka é muito dividida entre a visão de Karate tradicional (como arte marcial) e de Karate contemporâneo (como esporte). Como você enxerga isso?
NB: Eu entendo que seja normal que com o crescimento do karate esportivo, algumas pessoas acabem deixando o karate tradicional um pouco de lado. Já que, se pensarmos na profissionalização do atleta de Karate, é inevitável que estes passem a se dedicar quase integralmente à parte competitiva do Karate.
Mas, é evidente que um bom atleta só chega aos altos níveis técnicos se teve uma base muito sólida nos treinamentos de kihon e fundamentos. Portanto, acho que um bom atleta nunca pode esquecer da importância da prática do Karate mais tradicional, tanto em seu aspecto prático quanto filosófico e de conduta.
KN: Vamos pensar nos eventos que você participou, agora. Qual sua memória mais marcante em competições de Karate? Explique-nos por quê.
NB: Cada competição tem algum episódio forte que ficou marcado na minha memória.
No ano de 2012, que foi uma ano extremamente difícil, passei por uma fase com muitas lesões. Comecei disputando o Open de Paris, no qual as duas lutas que fiz foram injustas, mas faz parte. Em fevereiro tive uma inflação no púbis, que me atrapalhou durante muito tempo.
No mês de Abril, disputei o Open de Las Vegas. Na ultima luta, em que eu disputava a medalha de bronze contra a alemã Maria (que na época era a número um do ranking mundial), nos últimos segundos de luta, quando eu estava ganhando, levei um chute no nariz e sofri uma fratura. No mês de maio, no Campeonato Pan-americano, nos primeiros 10 segundos de luta, levei outro chute que pegou a canela da minha adversária no meu nariz, fraturando novamente.
Aí, em Junho, no Campeonato Sul-americano, fui convocada para disputar a categoria por equipe. Comecei na reserva e nossa equipe perdeu. No próximo confronto fui escalada e defini a ultima luta, depois de dois empate das minhas companheiras de equipe. Fechei em 8x0. O Brasil foi bronze com a minha luta decisiva.
No outro dia, disputei a categoria de peso até 68 kg, na qual fiz a final com a brasileira Lucelia Ribeiro (atual tetra campeã dos Jogos Pan-americanos), e fui campeã depois de uma luta duríssima. No mesmo dia, fui escalada para disputar a categoria Open (livre de peso) e fui campeã, sendo que a minha vitória trouxe o ouro no geral para o Brasil, completando a competição com 11 lutas invictas, realizadas no campeonato. Foi muito marcante, depois de todos os obstáculos que superei me achei merecedora e acreditei que o meu momento iria chegar.
KN: Sobre sua conquista na Alemanha. Como foi competir em um evento grande como esse? Quais foram os desafios e as surpresas nesse campeonato?
NB: Depois do mundial de 2012 já sabíamos que o próximo seria na Alemanha. Por esse motivo queria tanto ir para esse Open. Sabia que estariam os melhores. Todos os atletas estão buscando ser medalhistas no mundial e são nessas competições que encontramos a nata do Karate mundial.
Porém, resolvi ir de ultima hora. Sabia o que eu iria encontrar. Na minha chave estava a número um do ranking da Premier League e a número um do ranking Mundial. Não tinha para onde correr, pois eram todas atletas de altíssimo nível.
KN: Foram, ao todo, 32 competidoras em sua categoria, incluindo você. É um grande número de atletas em uma única chave. Isso não lhe deixou um pouco nervosa?
KN: Foram, ao todo, 32 competidoras em sua categoria, incluindo você. É um grande número de atletas em uma única chave. Isso não lhe deixou um pouco nervosa?
NB: O número de atletas inscritas não me deixou nervosa. O que me deixou apreensiva foi a quantidade de atletas com qualidade técnica.
KN: Após grandes lutas, você conseguiu conquistar uma excelente posição. Qual o primeiro pensamento após se dar conta que havia ganhado a medalha de bronze?
NB: Que valeu a pena. Passa um filme na cabeça, de tudo que já passei para estar lá. Fiquei super feliz e mais confiante para o Mundial.
KN: A comemoração deve ter sido grande. Como foi a reação da família e da equipe?
NB: Foi demais! Os amigos já falavam: ganha tudo, nem tem graça! (risos)
A minha equipe, assim como a minha família, ficaram orgulhosos. Mas a reação do meu técnico foi a melhor, pois ele estava presente, junto comigo, sentindo e vendo tudo o que estava acontecendo.
Quando ganhei a luta, ele já veio me erguendo e vibrando muito. Eu estava até sem ar e ele me apertava (risos). Foi emocionante.
KN: Algum plano em especial para 2014 no Karate?
NB: Vários. O primeiro é me classificar para os Jogos Pan-americanos. A classificação acontecerá em março, no Chile, no Jogos Sul-americanos. O segundo é subir no pódio no mundial, que acontecerá na Alemanha, em Bremen. Neste exato momento estou na França, onde vim disputar o Open de Paris e é claro que eu espero conseguir ganhar aqui, também (risos).
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Agradecemos profundamente à Natália por investir seu tempo nessa entrevista, ainda mais em uma época de treinos intensos em meio à competição. Não temos dúvidas de que seus depoimentos auxiliarão muitos nos treinos por este Brasil afora. Que você continue treinando e conquiste ainda mais vitórias no futuro.
Estaremos torcendo por você em 2014. Sucesso!
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Estaremos torcendo por você em 2014. Sucesso!
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Professor de Karate-Do pela Wado-ryu Renmei do Brasil
Mestrando em Gerontologia Biomédica - PUCRS
Bacharel em Educação Física - UFRGS
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Mestrando em Gerontologia Biomédica - PUCRS
Bacharel em Educação Física - UFRGS
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