FAIR PLAY NO KARATE: UM EXEMPLO BRASILEIRO
Douglas Brose dá um exemplo de fair play em competições.
O
Karate-Dō, enquanto um fenômeno desportivo, adquiriu grande força com o passar
dos anos. Existem diversos tipos de competições e nos mais variados níveis
(regional, nacional, internacional e até mundial), tanto na modalidade de
kumite (luta) quanto de kata (forma). Diversas escolas discutem a validade de
haver ou não competições desse tipo, que culminaram, inclusive, em brigas e desmantelamento
de instituições. A despeito disso, a competição desportiva, em si, pode ser permeada
dos mais diversos valores; basta saber fazer.
O
treinamento desportivo, no entanto, é difícil. Há muitas barreiras que devem
ser transpostas, sendo a parte física a mais óbvia. Há toda uma preparação
psicológica e pessoal, seja ela feita de forma clara ou mais introspectiva, somada
à educação que os professores e treinadores passaram ao atleta. Isso influencia
de uma forma ou de outra a maneira como ele se porta no momento da competição.
Temos os mais variados exemplos, não só no Karate, mas no desporto de forma
geral, de casos de desonestidade, uso de doping, artimanhas para fingir lesão e
angariar um mísero ponto. Apesar de ser comum e cada vez mais frequente, não torna
tais práticas corretas.
Em minhas
andanças pela internet (a rede mundial de computadores!!!), me deparei com um
antigo vídeo do brasileiro Douglas Brose, atleta já conhecido por muitos.
Douglas já foi Campeão Mundial pela WKF (World Karate Federation) e dispensa maiores
apresentações. Além de ainda fazer parte da equipe brasileira de Karate, ministra
diversos cursos pelo Brasil.
O vídeo
em questão é a luta final do campeonato mundial de 2012, contra Amir Mehdizadeh,
que acabou como campeão daquele ano em sua categoria (-60 Kg). Assista ao vídeo abaixo e
só depois continue lendo.
Assistiu ao vídeo? Então, aumente o volume e veja novamente.
Com a luta praticamente ganha, podemos ouvir que o técnico de Douglas o orienta a administrar a luta, sem dar oportunidade ao adversário de marcar pontos. O atleta, no entanto, não segue essas orientações e segue lutando, não apenas permitindo que o outro reaja, mas buscando, ele mesmo, mais pontos.
Neste momento eu bati palmas para um exemplo claro de fair play.
Douglas Brose não apenas continuou ativo na disputa, mas deu o melhor de si, respeitando o esforço do outro atleta. Muitos podem dizer que “administrar o resultado faz parte da competição”. Concordo inteiramente. Mas, não podemos esquecer, que ficar preso em clinche só é possível por conta das regras do shiai kumite. Na vida real você pode ter, muito bem, um pescoço quebrado. Além de uma luta justa, Douglas agiu através de um Karate mais próximo da realidade, controlado, metódico. Isso só soma pontos a seu favor.
Para não ficar remoendo pensamentos, resolvi entrar em contato direto com a fonte: o próprio Douglas Brose. Muito solícito, ele se dispôs a falar abertamente do ocorrido. Perguntei-lhe: Por que, mesmo com a luta quase ganha, você continuou combativo e não apenas administrou a vitória?
Eis que ele responde:
Quanto a esta questão, até hoje me pergunto: por que não administrei o resultado? (risos) Na verdade, é que minha característica sempre foi ofensiva e o tipo de treinamento que faço sempre foi muito mais ofensivo. Naquele momento deveria ter utilizado a regra a meu favor, mas o espírito de combate naquele momento, acho, falou mais alto. Isso serve como um aprendizado também, até porque, quando falamos em alto rendimento falamos em resultado. Naquele momento deveria ter utilizado o regulamento para obter o resultado. Mas como disse, serve como aprendizado. Estamos em uma competição que tem regras e o atleta completo é aquele que, além de lutar, sabe utilizar o regulamento a seu favor. Saí com a derrota naquele dia, porém, saí também com a sensação de dever cumprido.
Apesar de considerar as outras possibilidades, todas dentro das regras, Douglas não se remoeu por ter perdido a disputa. Esse, aliás, é o espírito de ação correto do karateka:
Dar o máximo de si, seguir em frente e confiar nas lições que aprendeu.
Considero a medalha de prata de Douglas, obtida em 2012, muito especial. É uma medalha de prata que brilha como se fosse feita de ouro.
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Professor de Karate-Do pela Wado-ryu Renmei do Brasil
Mestrando em Gerontologia Biomédica - PUCRS
Bacharel em Educação Física - UFRGS
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Mestrando em Gerontologia Biomédica - PUCRS
Bacharel em Educação Física - UFRGS
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Sinceramente conhecendo pelo menos o mínimo de Douglas Brose, tenho certeza de que ele cumpriu sim com o que promete, ele lutou com lealdade e respeito, inclusive ao oponente, e demonstrou espírito combativo, alma de guerreiro, lutador nato. Oss Douglas Brose, ABKS em Brasília admira demais seu trabalho e sua vida , seus resultados enquanto Karateca. Oss
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, Paulo! Douglas é, com certeza, um excelente atleta. Osu! =)
ExcluirNão havia assistido a luta e fiquei ansioso com a disputa. Luta emocionante.
ResponderExcluirCom certeza nos traz as raízes do karatê que muitas vezes são esquecidas por conta das competições onde o objetivo é só a conquista da medalha. A maior conquista do Douglas foi a certeza de um caráter esculpido a suor e sangue e testado a fogo e ferro. Qualquer um sentiria a tentação de ficar no clinche e "administrado" a situação.
Parabéns Douglas Brose!
Osu!!
Realmente, Douglas é um excelente atleta e karateka. =)
ExcluirConcordo com parte da idéia, mas competição é um jogo, temos que jogá-lo se quisermos vencer.
ResponderExcluirAinda lembro do lema "conter o espírito de agressão", que neste caso seria segurar mesmo a luta.
Agora, Douglas é Douglas, ele não é respeitado no mundo todo por nada, eu nunca vi um karate tão refinado como o dele. E o Rodrigo a mesma coisa.
Uma pena este resultado, mas concordo, é um ouro pintado de tinta prateada.
Excelente contribuição (pena não ter se identificado). Osu!
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