ESTILOS DE KARATE-DO parte 1




Aprenda um pouco mais sobre a história dos estilos.  

Olá, KARATE NERD!

Começaremos hoje uma série sobre os diferentes estilos de Karate-dō, comentando sobre cada um deles de forma a divulgar suas características. Antes, claro, precisamos entender um pouco de como surgiu essa arte, de maneira geral.

O MISTERIOSO TE



A origem do Karate-dō se deu através de um grande processo multicultural, confundindo-se muitas vezes com lendas e ditos populares que circulam entre seus praticantes. Há quem diga que ele surgiu, antes de tudo, no próprio Japão, ou até mesmo na China, inspirado no Wushu. Isso está bem longe da verdade.

O Karate-Dō surgiu em Okinawa, atualmente uma prefeitura do governo japonês. Okinawa era um reino independente e vassalo da China, o Reino de Ryūkyū, em meados do século XIV, período em que surgiram as primeiras práticas que originaram o Karate-Dō. A sociedade do local seguia o modelo imperial chinês, com dividida em diversas castas sociais: nobreza, clero, militares, comerciantes e camponeses.

Os heimin (camponeses) eram oprimidos pelas classes mais nobres, pagando impostos abusivos. Tinham de oferecer quase a totalidade de sua colheita para pagar os tributos exigidos, o que lhes infringia grande sofrimento. Em caso de recusa ao pagamento, suas famílias e lares eram destruídos pelos peichin, a classe militar guerreira de Okinawa, responsável pela cobrança dos impostos. Devido a essa opressão, os camponeses acabaram criando formas de combater seus algozes.

Assim surgiu o Te (ou Ti, na pronúncia nativa de Okinawa, que significa Mão). Tratava-se de um método de combate rudimentar, baseado em agarramentos, empurrões e ataques com as mãos e os pés, além do uso de diversas ferramentas rurais.









TŌDE E OS ESTILOS PRIMORDIAIS

Com o tempo, a prática do Te acabou sendo apropriada pelos próprios peichin, que a mesclaram com práticas de luta vindas da China, dando origem ao Tōde  (pronúncia de Okinawa para Karate), que significava literalmente “Mãos Chinesas”. A partir de então, os guerreiros de Okinawa passaram a estudar o Tōde, sendo, talvez, os principais responsáveis pelo seu desenvolvimento.

Nessa época, as principais cidades de Okinawa foram Naha, Shuri e Tomari, que deram origens a três estilos de Tōde, considerados os estilos primordiais que culminaram no Karate-dō que conhecemos hoje. Seus nomes eram baseados em suas cidades de origem: Naha-Te, Shuri-Te e Tomari-Te, respectivamente. Esses estilos se desenvolveram para formar as linhas Shōrin, que trabalhava os aspectos externos e físicos da arte; e Shōrei, originado de práticas chinesas internas (aspectos mentais, espirituais e vitais).


A REFORMA DO KARATE

Na década de 1920, Gichin Funakoshi realizou diversas visitas ao Japão, para demonstrar a arte que praticava ao povo e ao próprio Imperador. Estabeleceu, então, relações com outros mestres de artes marciais, como Jigorō Kanō e Morihei Ueshiba, os quais acabaram por influenciar sua visão sobre como deveria se trabalhar o Tōde/Karate em solo japonês.

Por fim, Funakoshi introduziu essa disciplina no Japão continental, alterando seu nome e sua metodologia. O que era conhecido como Tōde/Karate [唐手, mãos chinesas], passou a ser chamado de Karate [空手, mãos vazia]s, e mais tarde, Karate-Dō [空手道, Caminho das Mãos Vazias].

Por hoje é só, pessoal! Aguardem futuras publicações que continuarão essa trajetória histórica e cultural de nossa arte. Fique antenado para não perder nada.

OSU!!!


Brandel Filho [ブランデル フィリオ]
Editor do site e professor de Karate-dō,
Um eterno explorador da história dessa arte.
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REFERÊNCIAS
FUNAKOSHI, G. Karatê-Do Nyūmon: Texto Introdutório do Mestre. São Paulo: Cultrix, 1999.
MCCARTHY, P.; MCCARTHY, Y. Ancient Okinawan Martial Arts. Rutland: Tuttle Publishing, 1999. v.2.
NAKAZATO, J.; OSHIRO, N.; MIYAGI, T.; TUHA, K.; KOHAGURA, Y.; HIGAONNA, M.; TAIRA, S.; SAKUMOTO, T. Okinawa Karate and Martial Arts with Weaponry. Disponível em: www.wonder-okinawa.jp/023/eng, acesso em: 20 jun. 2005.
RATTI, O.; WESTBROOK, A. Segredos dos Samurais: As Artes Marciais do Japão Feudal. São Paulo: Madras, 2006.
SHINZATO, Y.; BUENO, F. A. Kobu-Do: as armas antigas de Okinawa. São Paulo: Editora On-line, 2007.
YAMASHIRO, J. Okinawa: uma ponte para o mundo. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1993.

Um comentário:

  1. Olá Brandel! Gostei do seu artigo! Acho de extrema importancia todo karateka conhecer a história de sua arte, por mais complexa que ela possa ser (como o karate). Queria pedir, se possivel, vc algum dia postar mais sobre a origem do karate em sua faze embrionária. Quero recomendar as pesquisas do Sensei Patrick McCarthy, que é considerado o maior pesquisador sobre história do karate no Mundo. Creio que vai ser muito bom para os karatekas do brasil saber as minucias e os sistemas de combate que deram origem ao nosso tão amado karate-do!

    Grato pelo artigo!

    OSU!!!

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